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11 de Julho de 2023

Memórias e vivências da roça

Memórias e vivências da roça

Dando sequência ao ciclo de homenagens aos fundadores da Copercana, este mês o homenageado da editoria “Histórias que fazem a nossa história” é o produtor cooperado, Antônio Wilson Lovato. Aos 88 anos ele vem vivenciando cada dia com a serenidade de um sábio homem do campo, que saiu da roça, mas que ainda cultiva a terra e valoriza com muito orgulho cada aprendizado e conquista.

Antônio veio de uma família de italianos, nasceu na cidade de Sertãozinho em 1935 e foi criado no sítio Santa Maria, próximo ao bairro Água Vermelha. Seu pai, o produtor rural José Lovato Sobrinho (in memoriam) e sua mãe a dona de casa, Petronília Lovato (in memoriam) produziam café, arroz, feijão, algodão e criavam porcos, culturas que logo deram espaço para o cultivo da cana-de-açúcar.

“Éramos uma família bem unida, tinha o meu pai com dois filhos e o meu tio Ademar Lovato, com dois filhos também, morávamos todos no sítio e nos dávamos muito bem. Naquele tempo não tínhamos muito dinheiro, mas havia muita fartura. Tinha o leite, a horta, frutas, porco, frango, ovo”.

Infância e juventude na roça

Antônio estudou em uma escola rural chamada “Escola Rural do Bairro da Vendinha”, situada a 1,5 km da sua casa. La ele cursou até o terceiro ano e depois foi estudar em Sertãozinho, onde fez o quarto ano na escola “Professor Anacleto Cruz”.

“Eu estudei até o quarto ano, mas minha mãe queria que eu concluísse o ginásio. Chorei muito porque não queria mais estudar e sim trabalhar na terra e assim foi. Eu fazia de tudo, preparava o solo, plantava, colhia, trabalhei bastante.

Tive uma infância boa com muitas amizades, brincávamos muito pela colônia. A noite ficávamos pegando vaga-lumes e a espera de estrelas cadentes. Naquele tempo tinham muitas festas, casamentos, bailes, festas juninas em todos os cantos na roça e eu frequentava porque era tudo conhecido”.

Antônio perdeu seu pai em um acidente aos 55 anos, o que fez com que ele e seu irmão assumissem os negócios. “Eu tinha 20 anos quando ele se foi e eu e meu irmão decidimos continuar cultivando. Na época alguns diziam para vendermos tudo e irmos para a cidade, mas não quisemos desfazer do que o meu pai nos deixou, seguimos tocando e deu certo. Tudo o que temos hoje é graças aquele pedaço de terra deixado pelo meu pai e que conseguimos prosperar”.


 

A constituição da família

Em 1968, Antônio adquiriu terras na cidade de Pitangueiras-SP que pertenciam a José Silva, cunhado da sua esposa, Zélia Caroni Lovato, e foi durante a transação que ele a conheceu.

“Eu já tinha 34 anos e a Zélia 28. Antes de conhecê-la eu dizia que não queria me casar, mas quando a vi me simpatizei por ela e pensei mais na minha vida, pois ainda morava com a minha mãe. Começamos a namorar e comprei uma casa na cidade de Pitangueiras onde ela morava para facilitar o meu trabalho e ficar mais próximo dela. Após um ano e meio de namoro eu a pedi em casamento. Nos casamos em 1970”.

Antônio e Zélia tiveram o primeiro filho, Wilson José Lovato, um ano depois de terem se casado. Logo em seguida veio o segundo filho, Luís Antonio Lovato. Wilson atualmente é médico no Hospital São Lucas, em Ribeirão Preto, é casado com Daniela e pai do Pedro e do Lucas. Já Luís é engenheiro civil, trabalha no Grupo Toniello e é casado com Elaine, com quem tem as filhas Ana Beatriz e Maria Elisa.



Uma fase difícil

“Tivemos duas crises no sistema canavieiro em 1983/84. Naquele tempo não se fazia álcool, somente açúcar, que não tinha mercado, não vendia. Fiquei com cana em pé sem moer, foi uma dificuldade, mas costumamos dizer que italiano não quebra, a gente sempre tinha uma economia e passamos aquela fase”.

Tecnologia, evolução

Antônio conta que quando começou a plantar cana com o seu pai, a única forma era sulcando com boi. Hoje ele se encanta com tanta inovação disponível no mercado e sabe da importância das tecnologias para produzir mais com menos.

“Se tenho uma boa produção é porque me dedico, invisto em tecnologias e acredito no que faço. No ano passado colhi 103 ton/ha de cana em média em 300 alqueires, mas tudo com a ajuda de bons equipamentos”.

O prazer em estar na roça e a confiança nos funcionários

Durante a semana, Antônio gosta de se fazer presente junto aos funcionários na lavoura, às vezes pela manhã, outrora após o almoço onde permanece até o final da tarde conversando, dando sugestões, trocando ideias e andando pelas propriedades. “Tenho um relacionamento muito bom com os meus 10 funcionários, quase todos trabalham comigo há mais de 30 anos e eu confio muito neles e eles em mim. Sou muito grato porque hoje estamos vivendo num mundo onde é difícil encontrar pessoas honestas, trabalhadoras e que vestem a camisa”.

Lazer

Nas horas de lazer, ficar em casa aos fins de semana é algo muito raro para Antônio, que gosta de dirigir seu veículo, passear pela região e também se manter informado. “Não gosto de ficar em casa, às vezes aos domingos após o almoço vou a Sertãozinho, que é a cidade onde eu nasci e aproveito para visitar o meu amigo Antônio Palmieri, que é um bom companheiro. Porém, gosto muito de ir dirigindo, não fico à vontade quando alguém dirige pra mim. Eu também gosto de me manter informado, porque temos que saber da porteira pra dentro e da porteira pra fora. Se você souber só da porteira pra dentro você está perdido. Eu converso com algumas pessoas que não sabem nada, são perdidas”.

Gratidão

Há sempre alguém em nossa trajetória que nos orienta e que contribui na caminhada. Ter gratidão por elas é um ato de reconhecimento. Antônio afirma que em sua caminhada encontrou várias pessoas que colaboraram para o seu crescimento e que tem por elas muita gratidão. “Sou grato a muitas pessoas que passaram pela minha vida e que me fortaleceram e tenho gratidão aos irmãos Toninho e Zé Pedro Toniello. Quando jovem eu passeava muito com o Toninho e com o Zé Pedro, íamos às festas de peão e depois de adultos fizemos várias viagens juntos, já me levaram para conhecer as fazendas de Mato Grosso e de Castilho. Temos uma amizade que carrego para o resto da vida porque eles sempre me incentivaram a fazer as coisas e sempre estiveram prontos para me orientar, auxiliar e ensinar. Sou muito grato a eles”.

Sua história com a Copercana

Atualmente, a Copercana é formada por mais de 7,5 mil cooperados e 1,8 mil colaboradores. Essa evolução Antônio com diretores e colegas fundadores da Copercana durante homenagem aos 60 anos da cooperativa se deve aos seus fundadores que lá atrás acreditaram, participaram do primeiro momento, abraçaram a idéia e se propuseram a construir algo que ficasse para as próximas gerações. Antônio foi um deles.

“É um orgulho eu ter sido o sétimo fundador da Copercana e ver o quanto a cooperativa evoluiu. Começamos com apenas sete pessoas e saímos à procura de assinaturas, aos poucos as pessoas foram aderindo e foi crescendo porque perceberam que era o caminho certo. Graças a Deus a Copercana sempre teve uma diretoria muito correta e eu vejo que os funcionários gostam de trabalhar na cooperativa porque sabem que estão numa empresa sólida. Tenho muita gratidão em fazer parte da história da Copercana que está aí há 60 anos ajudando o agricultor e muitas famílias também que sobrevivem graças ao trabalho que ela gera no estado de São Paulo e em Minas Gerais e se Deus quiser irá crescer muito mais”.