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07 de Agosto de 2023
Uma vida pautada na honestidade e na simplicidade
A Revista Canavieiros teve a honra de contar nesta editoria as histórias de cooperados fundadores da Copercana que marcaram a trajetória da cooperativa e que precisavam ser relembradas e perpetuadas. Foi um momento de ouvir relatos de um passado de muito trabalho, aprendizado e conquistas.
Para fechar esse ciclo de homenagens conversamos com o senhor Remualdo Dândaro, que foi o 39º cooperado a assinar o livro de fundadores da Copercana e nos contou um pouco da sua trajetória de muita luta, trabalho, humildade e, acima de tudo, de honestidade.
Remualdo nasceu em Sertãozinho-SP, num sítio na Lagoa dos Cavalos, em 28 de março de 1935. Seus pais, Pedro Dândaro (in memoriam), um italiano que sempre trabalhou na lavoura plantando algodão e cana, e sua mãe, Elvira de Andrade Dândaro, uma portuguesa que cuidava da casa e também ajudava seu esposo nos trabalhos na roça, tiveram seis filhos: Ilda Dândaro (in memoriam); Guiomar Dândaro (in memoriam); Helena Dândaro; Conceição Dândaro; Remualdo Dândaro e Adelino Dândaro (in memoriam).
“Eu e meus irmãos nos dávamos muito bem, graças a Deus. Levávamos uma vida simples, mas nunca faltou nada pra gente comer”.
Estudos e juventude
Remualdo iniciou seus estudos em uma escola de sitiantes, na Lagoa Itararé, em Sertãozinho-SP, e foi cursar o terceiro ano na escola do Corbo, que ficava no caminho da antiga Usina Albertina.
“Era um pouco puxado ir para a escola porque precisava caminhar mais de cinco quilômetros e mesmo quando chovia não podia faltar, tinha que ir de qualquer jeito (risos). Fiz até o terceiro ano e parei para trabalhar na roça com o meu pai e o serviço era bem pesado. Os pais exigiam da gente desde cedo e havia bem mais respeito e obediência do que hoje”.
Remualdo lembra que seu pai era bem rígido e que teve uma juventude bastante regrada “Naquela época, a gente não tinha tanta liberdade com os pais. Meu pai era bem severo e tive uma juventude um pouco sacrificada, pois tudo tinha que passar por ele, se precisasse de um dinheiro ou de uma roupa tínhamos que pedir a ele e nos contentar com o que era permitido”.
Exercer com sabedoria, cuidado e dedicação uma tarefa que lhe foi confiada pelo seu pai permitiu que ele realizasse o sonho de poder conduzir a carroça de burros, o que na época lhe deixou muito feliz.
“Eu ficava no sítio cortando cana sozinho e tinha vontade de trabalhar com uma carroça com cinco burros que o meu pai tinha. Ele chegava com a carroça de tarde, pegava um podão e ia cortar cana e mandava eu carregar a carroça. Eu carregava e depois colocava no lugar, soltava os burros direitinho e foi indo ele pegou confiança até que deixou eu trabalhar sozinho. Aquilo foi minha maior alegria, trabalhei muitos anos com a carroça com cinco burros”.
Durante a semana toda era só trabalho, aos domingos Remualdo se divertia com os amigos jogando futebol e nadando nos córregos da redondeza.
Namoro e constituição da família
Remualdo conheceu Alaíde Rodrigues Dândaro (in memoriam) no Engenho Central, em um baile organizado pelo seu Alfredo Rodrigues dos Santos. Eles passaram a namorar e depois de um ano se casaram. “Nos casamos no dia 10 de maio de 1958 e continuei morando no sítio Lagoa dos Cavalos que adquiri de herança do meu pai. Graças a Deus não passei dificuldade porque eu trabalhava e sempre tinha meu dinheirinho e nunca fiquei devendo para ninguém. Logo vieram os filhos, a Sônia Aparecida Dândaro (in memoriam); o José Marcelino; a Marli; a Sandra (in memoriam); o Sérgio (in memoriam) e a Fátima. Graças a Deus eles foram crescendo e me ajudando na roça. Meus filhos me deram oito netos, Jonathan, Willian, Tadeu, Túlio, Matheus, a Lílian, Joycemara e a Thaís, deles tenho nove bisnetos”.
A ida para a cidade
Aos poucos, os filhos foram se casando, deixando a vida na roça, e Remualdo também decidiu se mudar com a esposa para a cidade, mas não deixou de cuidar do sítio. Construiu uma casa no bairro Shangri-la, em Sertãozinho, onde morou por nove anos, mas os ladrões começaram a tirar o seu sossego.
“Decidimos mudar de lá e saímos à procura de uma nova casa, rodamos a cidade toda e a minha esposa gostou muito dessa casa onde moro até hoje e não quis saber de outra. Na época, eu não tinha o valor que me foi pedido, mas tinha trabalhado muito e colhido bastante amendoim que ficou armazenado na Copercana. Então, fui até lá conversar com o Luiz Carlos Witzl que era chefe na Copercana ele comprava e vendia amendoim para ver a possibilidade da cooperativa comprar o meu amendoim e ele disse que comprava sim, porém, eu teria que esperar três dias para receber. Eu então conversei com o proprietário da casa que pensou e fechamos negócio. Estou nessa casa há mais de 30 anos”.
Com o passar dos anos, Alaíde adoeceu e Remualdo arrendou o sítio para ficar em casa e poder cuidar da sua esposa. Mas ela partiu em 2007, aos 76 anos.
Remualdo ficou sozinho por quase dois anos e o destino o aproximou de Rosa Aparecida Bianchini, sua atual esposa. “Depois que a Alaíde faleceu eu fiquei sozinho, mas graças a Deus consegui arrumar uma pessoa pra ficar comigo e que me trouxe alegria, já faz 14 anos que estamos juntos e somos um pelo outro”.
Lazer
“Não gosto muito de sair de casa. Gosto de acordar cedo, varrer o quintal, cuidar das plantas, na verdade gosto de fuçar, não sou capaz de ficar parado e isso me deixa feliz. Graças a Deus sou um homem feliz, meus filhos me amam, eles só falam que tenho que parar de fuçar, que tenho que ficar quieto, mas não consigo, o que eu puder fazer eu ainda faço”.
Gratidão
“Tenho gratidão pelo Minervino Aragão, ele morava vizinho do meu sítio e me incentivava a fazer os plantios no tempo certo, às vezes ele me ajudava a aplicar herbicida no amendoim. Amo ele como se fosse meu irmão, até hoje a gente se encontra. A gente se dá demais”.
Sua história com a Copercana
Remualdo conta que na época da fundação da cooperativa ele não tinha a noção de que ela iria se transformar numa das mais respeitadas e promissoras cooperativas da região e se orgulha por fazer parte dela.
“E sou feliz por fazer parte dos fundadores da Copercana, sou o 39º. A cooperativa sempre esteve e está aí lutando pelos interesses dos cooperados e faz parte da minha história. Eu me lembro que meu pai comandava tudo no sítio e herdei dele o gosto pela cooperativa por participar, por adquirir produtos, sempre que precisei nunca tive um não. Precisei de uma colhedeira e a Copercana me ajudou, eu tirei um trator zero também, falei com o Toninho Tonielo, e a única coisa que ele perguntou foi quanto precisava. Eu nunca esperava que o Toninho fosse fazer isso pra mim e vi essa atitude com muito bons olhos, porque me auxiliou na hora que eu precisei, na verdade, sempre fui bem recebido e atendido. Fui colhendo amendoim, vendendo e pagando a Copercana, mas paguei tudo certinho e prezo muito isso, andar certinho.
Homenageado na festa de 60 anos da Copercana
No dia 19 de maio, Remualdo esteve presente no Centro de Eventos da Copercana, na festa de comemoração aos 60 anos da cooperativa, onde ele e os fundadores Antonio Wilson Lovato e Natalino Guidi foram homenageados e falou da emoção que o contagiou naquele dia.
“Eu achei que foi uma festa maravilhosa, me senti muito feliz. A Copercana é tão maravilhosa, mas me faltaram palavras para descrever a importância da cooperativa na minha vida no momento em que fui chamado lá na frente, apenas agradeci pela homenagem e disse que iria guardar aquele troféu pelo resto da minha vida. Aquela noite ficou marcada no meu coração, foi emocionante pra mim e pra minha família”.